21 de fevereiro de 2017

Startups brasileiras disputam com gigantes globais

Confira matéria publicada pelo Estadão que mostra como aplicativos locais estão atraindo interesse de grupos estrangeiros.

Uma batalha de cupons de descontos tomou de assalto a internet em dezembro de 2016. O confronto opunha dois rivais: o serviço brasileiro Spoonrocket – irmão mais novo do iFood – e o recém-chegado Uber Eats, braço “de comida” da gigante avaliada em US$ 62,5 bilhões. Ambos fazem entrega de pratos de restaurantes gourmet. O embate também ganhou as ruas: antes da estreia do Uber Eats no País, motoboys eram disputados um a um pelas empresas.

Dois meses depois, o conflito direto deu lugar a uma guerra fria. “Ainda vai levar tempo para a rivalidade ficar forte”, avalia Roberto Gandolfo, presidente executivo do Spoonrocket, que estreou em São Paulo em setembro. De lá para cá, a empresa chegou ao Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília – além de fazer testes em Porto Alegre. Seu rival está apenas na capital paulista.

Principal receio que a chegada de um rival de porte pode trazer, a desaceleração no crescimento não chegou à Spoonrocket. No primeiro mês após a estreia, a empresa teve 20 mil pedidos– em dezembro, chegou a 60 mil. Segundo apurou o Estado, a empresa fatura cerca de R$ 2 milhões por mês. O Uber Eats não revela números, mas vê um mercado amplo para explorar. “Todos que têm um celular são possíveis usuários do Uber Eats”, diz um porta-voz da empresa.

 Fogueira. Até mesmo empresas mais consolidadas sofrem com rivais que vêm de fora. É o que ocorreu com os apps de transportes: após unir taxistas e passageiros, as startups Easy e 99 (ainda com o sobrenome “Táxi”) sentiram o golpe quando o Uber chegou ao País, em 2014 (ver texto ao lado). Além de ser mais barato, o Uber elevou o padrão de atendimento: água e balas nos carros viraram regra.

Sem muito dinheiro no bolso, Easy e 99 demoraram para reagir. As duas empresas lançaram seus serviços de carros particulares (Easy Go e 99 POP) em meados de 2016, apenas em São Paulo. “Foi um período modesto em investimentos”, diz Paulo Veras, cofundador e presidente do conselho da 99. “É difícil concorrer em pé de igualdade com os estrangeiros em investimentos.”

A sorte da 99 mudou em dezembro de 2016, quando recebeu um aporte de mais de US$ 100 milhões, liderado pela chinesa Didi Chuxing. “Temos 250 vagas abertas para dobrar nossa equipe. Vamos lançar o 99 POP em pelo menos dez cidades até o fim do ano”, diz Veras. Além de dinheiro, os chineses também trazem conhecimento à 99 – não só tecnológico, mas também sobre como frear o Uber. Em junho de 2016, a Didi comprou a operação chinesa do Uber, se tornando a primeira empresa a desbancar a rival norte-americana.

Ainda sem uma grande parceria definida, a Easy passou 2016 tentando equilibrar as contas. “Em setembro, tivemos nosso primeiro mês de lucro em todos os países onde estamos”, diz o venezuelano Jorge Pilo, copresidente executivo da startup, que está em 30 países.

Para 2017, o plano é voltar a investir para não ficar para trás. A empresa pretende expandir sua equipe de tecnologia e vai apostar em novas fontes de receita, como usar o app para medir a qualidade do sinal de banda larga móvel (3G/4G) – e vender os dados para as operadoras. “Posso subsidiar o negócio e chegar ao ponto de não cobrar uma corrida para conquistar usuários”, exemplifica Pilo.

No passado, a falta de capital para investir matou negócios antes mesmo de ameaças estrangeiras chegarem no País. Em 2012, o serviço de streaming de música Sonora, do portal Terra, enfrentava apenas o finado Rdio – nomes como Deezer e Spotify ainda não estavam no País. Na época, o Sonora tinha 500 mil usuários e os executivos anteviam a vinda dos “gringos”.

“Precisávamos investir no catálogo e na experiência do usuário para crescer”, lembra o executivo Flávio Sousa, que trabalhou no serviço. No entanto, faltava dinheiro e o Sonora acabou desligando toda a equipe no final de 2012. Dois anos depois, vendeu sua base de usuários ao norte-americano Napster.

Cultura. Dinheiro na mão nem sempre é suficiente. Conhecer a cultura local e investir em atendimento pode ajudar empresas brasileiras. É no que crê a Easy, que elevou a barra para recrutar motoristas: “O Uber teve crescimento importante, mas há queda na qualidade”, diz Pilo.

Estar próximo do governo também pode ser útil – a 99 aposta em boas relações com prefeituras para diversificar seus negócios. Questionado, o Uber não revela planos, mas diz estar “sempre em busca de novos mercados para seus produtos”.

Às vezes, porém, é preciso trocar de pele para bater a concorrência. O Peixe Urbano fez isso: o site de compras coletivas disputou o mercado com o gigante Groupon, mas os dois cresceram rápido demais e tiveram problemas com fornecedores.

Em 2013, o Peixe se transformou em um site de venda de serviços – sem número mínimo de compradores para ativar uma oferta. O movimento chamou a atenção da chinesa Baidu, que comprou uma fatia majoritária da empresa – o valor da transação não foi divulgado. Com dinheiro em caixa, a empresa voltou a crescer. Em 2016, registrou o maior faturamento da história.

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